12 de março de 2008

Aline

Crespos. Com uns cabelos muito crespos e quase loiros. Com a doída suavidade de ser quase loira. Ela se enfiava rápida em um vestido feito de flores - que ela era rápida na vida e a vida era rápida - e caminhava aquelas ruas tristes sujas vazias.
Não gostava do ar daquela cidade, ela que era um pouco filha do ar. Deixava que o vento fizesse os cabelos dançarem para não arrumá-los depois. Acreditava, sobretudo, na teimosa sabedoria do vento. E pelo vento seguia, exausta de opacidade e mau-cheiro, carregando um riso indelicado e maldito que a salvava de ser santa.
Assim foi que, um tanto por descontrole e outro tanto por obra do acaso, ela um dia abandonou a cidade velha e encontrou-se com o mar e seus pescadores. Era aquela a terceira vez que via o mar, e o mar pareceu a ela três vezes maior do que antes.
Correu então até ele para batizar-se, porque o mar era sempre sagrado. Dele, invadiu as águas e misturou-se ao sal, consagrando-se à Iemanjá. Cantou a ela sete cantos de louvor sem contar seu nome. Não queria proteção, desejava apenas receber o mar completamente em sua fúria, fome e potência.
Ela estava sozinha dentro do mar, era o mar e, outra vez, tinha força no vento.

Um comentário:

Alana disse...

legal esse tbm

até q a gente acha alguma coisa massa por essa net...
bjus